21/02/2012

[Entre minhas próprias linhas] Querida Sapatilha



Querida Sapatilha,

Não entendo sua linha de pensamento. Se é que você possui uma. A ideia que você e suas ações me transmitem é a de pura e calculista falsidade. Acho que você já sabe do que, ou melhor de quem eu estou falando. De sua amiga de anos, Ponteira, claro.

Se não a uso, sou punida com dolorosos machucados e horrendas feridas deformando meus pés. Porém, quando a coloco em sua companhia, você passa toda a sujeira e suor que receberia de meus pés para essa pobre coitada feita de silicone. E o que mais me espanta, é que ela não toma partido contra você, sua carrasca infiel.

Tenho profunda e sincera pena de sua amiga, mas ao mesmo tempo me pergunto por quê diabos ela não te abandona. Já ouvi falar de muitas bailarinas que continuam a dançar sem fazer o uso de ponteiras. Aí está, aposentadoria fácil.

É por isso - na tentativa de aliviar um pouco seu sofrimento - que estou me policiando, passando essa semana sem te limpar. Sim senhora, pode considerar esta atitude um castigo. Vá se desculpar com sua amiga primeiro, que depois poderemos conversar a respeito de algumas gotinhas de Veja. Ou batidas de Pancake, para ao menos esconder parte de sua imundície.

Mas tenha em mente que nenhuma das opções acima vai esconder por completo o que você é, pois todas nós já te conhecemos, minha amabilíssima algoz.

E hoje, o dia chegou. O tão esperado dia em que te fecharei em uma caixa, a qual dificilmente será aberta. Maldita, quando já estava começando a compreender as suas manhas, resolveu me pregar esta peça, quebrando seu gesso logo sob meus pés.

Querida Sapatilha, saiba que o feitiço virou contra o feiticeiro e agora, trancada você ficará nesta caixa de sapatos, enquanto faço o uso de outro par de sapatilhas mais reforçadas que você, que dêem conta do recado que você dispensou.

Texto escrito por: Natalia Leal
Paródia de: Querida Geladeira - Marcelo Pires
Escrito em: 14/02/2012


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