Eu corro atrás do coelho branco, como se ele representasse cada conquista que pode se tornar realidade. Escalo árvores, vejo as coisas se virando de cabeça para baixo e do mesmo jeito que se bagunçaram, colocando-se em seus devidos lugares. Avisto uma ponte, mas não sei se é seguro o bastante atravessá-la. Minhas decisões me confundem e, por fim, acabo caindo em um abismo.
A cada minuto que se passa, observo a escuridão ao meu redor. Já não sei mais onde estou, o motivo da queda e o porquê de ela parecer não ter fim. É angustiante o quanto me cobro estar firme novamente, no chão. A gravidade simplesmente não me obedece e continuo girando e girando no ar, sem rumo definido.
É quando, finalmente, caio. A queda me deixa dolorida e enche meus olhos de lágrimas, o ar me fugindo dos pulmões. Quase sem forças, tateio pelo chão em busca de um pontinho de luz que se vê ao longe. A passagem é estreita, mas acabou visualizando algo que espalha um arrepio pela minha espinha: um rabinho branco e felpudo.
Subitamente, me recupero e rastejo em busca do animalzinho ligeiro. Pedaços de raízes que eu nem tinha notado se enroscam em meus pés e me puxam para trás, tentando fazer-me desistir. Determinada demais para parar, arranho-as com as unhas recém-pintadas até que desfaçam os nós em torno de meus tornozelos, dando continuidade a minha busca. Franzo as sobrancelhas e só penso em continuar... Correndo.
Espinhos arranham o que resta do meu rostinho bonito, agora cheio de terra e parcialmente ferido. Entre um tropeço e outro, tento alcançar o rabinho do coelho e por pouco não consigo, tendo o bichinho entrado por uma portinha dourada. Percebendo que perdi a melhor das chances, me deixo cair no chão e desato a chorar, cobrindo as mãos ante o vazio do lugar.
Injuriada, deixo um grito gutural escapar por meus lábios e esmurro a minúscula porta. Não sou Alice. Não tenho a droga de um líquido que me faça diminuir assim que eu terminar de bebê-lo. Eu tentei. Tentei! E não consegui. Por que? In(justiça)? E agora, serei castigada por uma rainha de copas ou absolvida por algum rei metido a besta? Pior de tudo, haverá a chance de milhões de gatos risonhos rirem da minha cara? Não, isso não!
O barulho de meus questionamentos é tão alto que o coelhinho resolve sair pela portinha e verificar o que está acontecendo. Bichinhos inconvenientes, eles, só aparecem quando querem. Num átimo, fico em silêncio e observo seu par de olhos vermelhos piscando freneticamente em minha direção, um passo em falso e eu corro o risco de perder a batalha. Então, ele dá um salto e pula em meu pescoço, enterrando seus dentes em minha pele macia. Nada me resta, senão a eterna escuridão.
Fotografia por: Ricardo Veloso
Texto por: Natalia Leal
02/03/2014
País das Maravilhas
Marcadores: expectativa, fotografia, metas, objetivos, Ricardo Veloso, simbólico, texto
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Gostei do texto Natalia e da alusão feita à Alice no País das Maravilhas. Belas e intensas palavras! Beijo!
ResponderExcluirwww.newsnessa.com
Oi, Vanessa!
ExcluirMuito obrigada, fico imensamente feliz que tenha gostado. Esse texto tem muita importância para mim ♥
Beijão,
Natalia Leal
Eu sabia! Eu sabia! Sabia que esses coelhinhos brancos de olhos vermelhos eram malignos! Nunca gostei deles! haha Amei o texto!
ResponderExcluirLetras & Versos
Oi, Gabby!
ExcluirFofinhos, porém malignos. É isso mesmo, hahahahaha. Obrigada!
Beijão,
Natalia Leal